As doze perguntas da oração de Jó

"Tomara eu tivesse quem me ouvisse!" (Jó 31.35)

“Tomara eu tivesse quem me ouvisse!” (Jó 31.35)

 

Todo cristão deveria poder fazer estas doze perguntas da oração de Jó antes de reclinar a cabeça sobre o travesseiro, a fim de poder dormir em paz com Deus. Estas doze perguntas (elaboradas com base em Jó 31) revelam o segredo da estratégia de Jó para se desviar do mal e andar sempre de forma reta íntegra e temente a Deus. Oremos a oração de Jó!

Pergunta 1: Quem controla os meus olhos?

O olhar do ser humano revela suas motivações, suas paixões e especialmente a parcela da “porção de Deus” presente em sua vida. Nestes versos vemos que Jó fez um pacto com seus olhos de não cultivar o olhar promíscuo às donzelas convicto de que Deus vê os meus caminhos.

1 Fiz aliança com meus olhos; como, pois, os fixaria eu numa donzela?
2 Que porção, pois, teria eu do Deus lá de cima
e que herança, do Todo-Poderoso desde as alturas?
3 Acaso, não é a perdição para o iníquo,
e o infortúnio, para os que praticam a maldade?
4 Ou não vê Deus os meus caminhos
e não conta todos os meus passos?

Pergunta 2: Qual é a minha resistência ao erro?

Neste segundo passo Jó avalia a rapidez com que uma pessoa de desvia da integridade. Ele sabe que o ser humano é, por natureza, caído e pecador, mas a rapidez com que algumas pessoas se entregam ao engano, à maldade e à promiscuidade é surpreendente. Isso revela a falta de resistência ao pecado. Neste sentido, a oração de Jó não é para que Deus averigue se ele não tem pecado, mas sim a sua resistência para o mal, a velocidade com que o engano porventura lhe subjugou. Somente as balanças fiéis de Deus podem averiguar estas coisas.

5 Se andei com falsidade,
e se o meu pé se apressou para o engano
6 pese-me Deus em balanças fiéis
e conhecerá a minha integridade;

Pergunta 3: Como consegui o que tenho hoje?

Considerando que Jó era uma das pessoas mais importantes e bem sucedidas do seu tempo, é natural que sofresse acusações sobre o modo como conseguiu chegar onde ele chegou. A esse respeito ele se defende com três perguntas: 1) Há desvio dos caminhos do Senhor no modo como consegui as coisas que tenho? 2) Há indícios de que meu coração foi guiado pelas coisas que vejo e não pelos olhos daquele que me vê em todo o tempo? Há indícios de corrupção no modo como adquiri aquilo que hoje compõe o meu patrimônio? Se em algum destes pontos ele for encontrado faltoso, sua oração é para que Deus não lhe permita desfrutar de nada daquilo que ele ajuntou.

7 se os meus passos se desviaram do caminho,
e se o meu coração segue os meus olhos,
e se às minhas mãos se apegou qualquer mancha,
8 então, semeie eu, e outro coma,
e sejam arrancados os renovos do meu campo.

Pergunta 4: Cobicei a mulher do meu próximo?

A situação descrita nestes versos assemelha-se ao cenário construído em Provérbios da mulher adúltera onde o filho é instruído a nem se aproximar do caminho dela. O oração de Jó neste ponto está tratando de dois aspectos: 1) o ato de ser seduzido, e 2) o ato de andar espreitando. No primeiro caso Jó é um agente passivo, no sentido de não ser quem inicia a ação de aproximação da mulher do próximo. Mesmo assim, conforme instrui Pv 5, nossa tarefa não é somente “resistir à sedução”, mas principalmente manter distância de qualquer trajetória ou atitude que possa culminar numa cena propícia ao ato de sedução. Com respeito ao segundo caso, Jó se coloca na posição de um agente ativo e pergunta se jamais espreitou à porta do seu próximo, obviamente com a intenção de cobiçar a sua mulher.

9 Se o meu coração se deixou seduzir por causa de mulher,
se andei à espreita à porta do meu próximo,
10 então, moa minha mulher para outro,
e outros se encurvem sobre ela.
11 Pois seria isso um crime hediondo,
delito à punição de juízes;
12 pois seria fogo que consome até à destruição
e desarraigaria toda a minha renda.

Curiosamente, o castigo que Jó pede sobre ele é que a sua esposa trabalhe como escrava para outro e que outros homens se encurvem sobre ela (isto é, se deitem com ela). Nos dias de Jó cobiçar a mulher do próximo era considerado crime hediondo e as consequências comparadas a ser consumido pelo fogo até à destruição.

Pergunta 5: Oprimi os que me serviam?

Jó era um renomado juiz em sua época e poderia ser tentado a torcer a justiça e negar o direito aos que lhe serviam quando contendesse com ele num tribunal. Negar e reter aquilo que é devido aos que nos servem é um pecado cobrado prontamente pelo próprio Deus o qual certamente se levantará e cobrará explicações.

13 Se desprezei o direito do meu servo ou da minha serva,
quando eles contendiam comigo,
14 então, que faria eu quando Deus se levantasse?
E, inquirindo ele a causa, que lhe responderia eu?
15 Aquele que me formou no ventre materno
não os fez também a eles?
Ou não é o mesmo que nos formou na madre?

Pergunta 6: Demonstrei generosidade?

O homem ou a mulher de Deus precisa ser capaz de perguntar diante dele a respeito da generosidade manifestada na sociedade. Generosidade é diferente de negar o direito aos que nos servem. Não temos a obrigação de sermos generosos, mas o desejo e comprometimento em fazê-lo demonstra a grandiosidade de um ser humano criado à imagem e semelhança de Deus. Jesus demonstrou com perfeição esta preocupação e comprometimento com a generosidade. Jó demonstra proporcional seriedade quando ora pedindo que “caia a omoplata do seu ombro” e “seja arrancado o seu braço da articulação” se algum dia fosse comprovado que ele deixou passar a oportunidade de demonstrar generosidade ao seu próximo.

16 Se retive o que os pobres desejavam
ou fiz desfalecer os olhos da viúva;
17 ou, se sozinho comi o meu bocado,
e o órfão dele não participou
18 (Porque desde a minha mocidade cresceu comigo como se eu lhe fora o pai,
e desde o ventre da minha mãe fui o guia da viúva.);
19 se a alguém vi perecer por falta de roupa
e ao necessitado, por não ter coberta;
20 se os seus lombos não me abençoaram,
se ele não se aquentava com a lã dos meus cordeiros;
21 se eu levantei a mão contra o órfão,
por me ver apoiado pelos juízes da porta,
22 então, caia a omoplata do meu ombro,
e seja arrancado o meu braço da articulação.
23 Porque o castigo de Deus seria para mim um assombro,
e eu não poderia enfrentar a sua majestade.

Pergunta 7: Fui avarento?

Esta pergunta avalia o aspecto mais profundo da nossa relação com as nossas posses, especialmente para aqueles que possuem muita coisa, como era o caso de Jó.

24 Se no ouro pus a minha esperança
ou disse ao ouro fino: em ti confio;
25 se me alegrei por serem grandes os meus bens
e por ter a minha mão alcançado muito;

Pergunta 8: Fui idólatra?

Os mais variados modos de idolatria acompanham a humanidade desde os tempos mais remotos. Nos dias de Jó, uma das formas de idolatria era a adoração do sol e da lua, os dois principais luzeiros criados por Deus para governar o dia e a noite respectivamente. O destaque para esta pergunta 8 está na origem do engano nos lugares ocultos do coração.

26 se olhei para o sol, quando resplandecia,
ou para a lua, que caminhava esplendente,
27 e o meu coração se deixou enganar em oculto,
e beijos lhes atirei com a mão,
28 também isto seria delito à punição de juízes;
pois assim negaria eu ao Deus lá de cima.

Pergunta 9: Fui vingativo?

A vingança pertence a Deus. Toda tentativa de antecipar o exercício pleno e exclusivo de Deus de vingar todos aqueles que buscam ou causam o mal contra o seu povo pode ser caracterizada como vingativa. Claro, há exceções. Nestas palavras de Jó, a atitude vingativa se manifesta de duas formas, a saber, se alegrando da desgraça daquele que o odeia e pedindo com imprecação a sua morte.

29 Se me alegrei da desgraça do que me tem ódio
e se exultei quando o mal o atingiu
30 Também não deixei pecar a minha boca,
pedindo com imprecações a sua morte;

Pergunta 10: Fui hospitaleiro?

Cada vez mais nossa cultura brasileira se esconde por detrás de inúmeras razões para não precisar exercer a hospitalidade. Na perspectiva de Jó, ser hospitaleira não visa corrigir problemas sociais de grandes centros urbanos, mas sim de pessoas em nosso trajeto de vida. Veja que a “gente” que ele se refere é a “gente da sua tenda” e não de toda face da terra. O estrangeiro e o viandante (isto é, viajante) também não são para serem comparados com mendigos ou usuários de crack que infelizmente vemos perambulando pelas nossas cidades. Precisamos ser e demonstrar nossa hospitalidade.

31 se a gente da minha tenda não disse:
Ah! Quem haverá aí que não se saciou de carne provida por ele
32 O estrangeiro não pernoitava na rua;
as minhas portas abria ao viandante!

Pergunta 11: Fui omisso?

O centro desta pergunta é a atitude de omissão resultado da pressão e do medo da “grande multidão”. Observe atentamente que aquilo que Jó conjectura ter escondido (assim como fez Adão) são “as suas transgressões”. Nesta oração ele pergunta, então, a Deus se em algum dia ele preferiu esconder a sua transgressão a enfrentar o desprezo das famílias que certamente o admiravam. Neste ponto em particular, Jó pede que o próprio Deus responda a pergunta e desafia aqueles que o acusam (meu adversário aqui não é uma referência a satanás) a apresentarem qualquer prova formal que lhe incrimine.

33 Se, como Adão, encobri as minhas transgressões,
ocultando o meu delito no meu seio;
34 porque eu temia a grande multidão,
e o desprezo das famílias me apavorava,
de sorte que me calei e não saí da porta.
35 Tomara eu tivesse quem me ouvisse!

Eis aqui a minha defesa assinada!
Que o Todo-Poderoso me responda!

Que o meu adversário escreva a sua acusação!
36 Por certo que a levaria sobre o meu ombro,
atá-la-ia sobre mim como coroa;
37 mostrar-lhe-ia o número dos meus passos;
como príncipe me chegaria a ele.

Pergunta 12: Fui justo com a minha terra?

Desde os dias deste personagem bíblico, a preocupação com a sustentabilidade e a justiça para com a criação é evidente. Jó quer dormir sem a preocupação ou acusação de ter explorado indevidamente os recursos disponibilizados por Deus para toda a humanidade. Por causa da sua influência e prestígio, Jó poderia facilmente se beneficiar de uma parcela desproporcional de recursos que Deus deixou para o uso e benefício de muitos e não apenas de um.

38 Se a minha terra clamar contra mim,
e se os seus sulcos juntamente chorarem;
39 se comi os seus frutos sem tê-la pago devidamente
e causei a morte aos seus donos,
40 por trigo me produza cardos, e por cevada, joio.

Oremos a oração de Jó! 

 

Daniel Santos

 

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Professor, pesquisador e pastor. Amo ouvir, refletir e divulgar boas ideias. Creio, sigo e sirvo o Deus que se revelou nas Escrituras do Antigo e Novo Testamentos.

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